sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O óbvio



O óbvio

No final de semana é comum as pessoas dormirem um pouco até mais tarde. E Aluizo não afrouxava seu plantão de vigiar a rua. Bem cedinho estava ele na espreita dos que passavam pela rua. Ficava atrás do muro aproveitando a sua baixa estatura, e rapidamente podia baixar ou levantar a cabeça para ver a rua, ou se esconder. Ficava espreitando aqueles que passavam saindo cedo para trabalhar, ou quem sabe voltando de uma festa. 

Mas no final de semana havia um dia especial. O dia que chegava a revista semanal assinada pelos que moravam na casa ao lado, a casa da Tia Professorinha. E Aluizo, tinha que pegar a revista antes que os vizinhos acordassem.  Merença adorava ficar folheando a revista para ver as imagens e as fotos. Parecia ser o óbvio que Aluizo tinha um acordo com o entregador. Quando ele faltava o serviço de vigília, o entregador colocava a revista no seu portão. 

Quando Embrião estava em sua casa em férias ou apenas por alguns dias, ficavam os dois na varanda, Aluizo e Embrião lendo jornais e revistas como dois intelectuais acompanhando as notícias do dia e da semana. Mídias impressas surrupiadas nas primeiras horas do dia. E outro fato óbvio ficava claro no comportamento de Aluizo e Merença, fatos que podem ser definidos com ditados populares: fazer caridade com as esmolas de outros; ou cumprimentar os outros com o chapéu alheio. Adoravam pegar coisas e obetos de outros para ofertar como presentes de autoestima. Faziam questão de receber roupas e coisas usadas para chegar como ofertas na igreja, simulando os bons samaritanos.

Depois de levar a revista para dentro de casa, tudo o mais acontecia como se nada tivesse acontecido. 



─ Bom dia dona Merença

─ Bom dia Viniçu. Mas o que se tá fazenu aqui? A Leidicá num ta aqui não! Acho que ela esta dormino ou vai chega mais tarde. Merda, caralho, já vem o Viniçu para fazer prantão na minha casa, pensava e resmungava Merença. Mas ela precisava aproveitar a presença de Viniçu.  Viniçu era namorado de Lady K, a neta de Merença. Ele morava em um castelo branco localizado em uma rua próxima da casa de Aluizo e Merença.

─ Viniçu aproveita e ajuda o Predo na lição de casa, que ele tá com uns pobrema.

─ Tá bom dona Merença. Predão! Qual é o problema?

─ Viniçu, a professora pediu para escrever uma frase com a palavra ‘óbvio’. 

E vou tentar explicar. Vou dar um exemplo para você Predão. Preste atenção na minha frase, uma pequena história que vou contar. “Hoje pela manhã, quando eu acordei e olhei pela janela, vi que o carro do meu pai não estava na garagem. Então eu pensei. É obvio que meu pai foi trabalhar com o carro”.

Neste momento passa correndo pelo corredor Merença com um jornal. Viniçu e Predo observaram sua pressa ao passar com o jornal, embaixo do braço. Viniçu não entende o ato.
Entendi falou logo Predo. Minha avó passou correndo com o jornal embaixo do braço. Minha avó não sabe ler, é óbvio que ela vai cagar.

─ Valeu Predão! Toca aqui. E cumprimentaram-se com gestos de turmas e grupos.


02/01/15

* Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com casos ou pessoas terá sido mera coincidência
 
* This is a fictional story. Any resemblance to actual cases or persons is entirely coincidental
 
* Esta es una historia de ficción. Cualquier parecido con casos reales o personas es mera coincidencia


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