quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O Sargento e as patentes



O Sargento e as patentes



Quando jovem, saiu de uma cidade do interior nordestino, com destino a uma cidade grande, já que lá na pequena cidade não iria servir para as atividades que serviam a seus pais, a seus tios, e aos seus inúmeros primos. Mal sabia remar ou nadar, sabia apenas olhar e observar. E saiu das margens de um rio para se alistar na marinha. Acostumado a ver rios com cheias e secas, queria ver o mar. Desembarcou em outro rio para ali se alistar. Alistou-se como um recruta para servir a pátria, e chegou à patente de sargento. Serviu no sul do país e descobriu que as patentes têm outros significados.

Sem pai e sem mãe em outro rio, aceitou a pátria como mãe e a marinha foi sua madrinha, no Rio de Janeiro. Um dia foi designado para uma cidade onde começa a formação dos futuros oficiais da marinha. Não ariscou um passo mais largo, preferiu formar novos recrutas, que começariam como ele começou. Mais tarde, já como sargento, fora convidado para um cargo de adido militar, em outro país, e surge uma nova desistência de um passo mais largo. E aquele sargento só serviu à marinha. O sargento serviu à marinha em algumas patentes, e não serviu para mais nada. Acostumou-se a criticar os outros por uma gíria, “queimar a pólvora do governo”. E como o governo era seu pai, queimou pólvoras à vontade, era o governo quem lhe pagava.

Na época em que servia a marinha, e morava em uma pequena casa no final de uma vila, tentou servir como criador de coelhos, nos fundos de um quintal de um vizinho, na mesma rua. Não serviu de nada seu investimento. Quando possuiu casa própria com um terreno nos fundos, e ainda servido a marinha, tentou servir como criador de galinhas. Queria ser fornecedor de frangos e galinhas para aviários. Não serviu de nada seu novo investimento e seu novo empreendimento. Comia, dormia e bebia no quartel, e quis criar, dar apenas água e ração para frangos e galinhas, alojados em um galinheiro. Coletou alguns ovos para consumo próprio, e produziu apenas o adubo deixado pelas galinhas. Com poleiros e patentes, elas souberam transformar a água e a ração que lhes foi ofertada. 

Mais tarde o sargento investiu como sócio em uma empresa de aplicação de sinteco em residências. Sem conhecer nada do ramo, quis ser apenas o dono, sem sujar as mãos, não podia desmerecer sua patente. Não se sabe exatamente o fim da história e a desfeita da sociedade. De outras vezes fez novas e diferentes tentativas. Tentou por algumas vezes ser um construtor. Deixou casas incompletas, ou seja, todas as casas que começou a construir não foram terminadas, inclusive o galinheiro.

Muito tempo depois voltou para aquela cidade de onde saíra em sua adolescência. Foi a uma cidade próxima e fez um grande investimento no ramo de depósito de gás, com distribuição de gás engarrafado, tentando e imaginando favorecer a região. Outro empreendimento não pesquisado e não avaliado, que não serviu de nada. Teve que vender os botijões vazios, trazendo de volta os prejuízos, o empreendimento não teve sucesso, nem chegou a explodir.
Hoje com uma granja disponível que não lhe pertence, continua suas tentativas de servir para alguma coisa. Uma granja que lhe serve para brincar de trabalhar de produtor rural, buscando novas patentes. Novos e repetidos conhecimentos e investimentos são aplicados na granja, também chamada de sítio. Já tentou novamente servir como criador de galinhas e de coelhos. Tentou servir como criador de carneiros e ovelhas. Investe na produção de capim, sempre viçoso e irrigado. Tenta ser um piscicultor com uma piscina improvisada. 

Soube preservar na granja tudo que era velho e desajeitado. Casas e casebres, cochos e ranchos; são obras que em algum momento, antes da aquisição da granja, com edificações e construções, algo que um dia foi iniciado, construído e terminado. Mas com a ação do tempo requer conservação e manutenção, que nunca não são realizadas.

O sargento tenta no espaço conhecido como sitio ou granja, criar e produzir tudo que pode ser encontrado em um supermercado como: animais abatidos, limpos e embalados, nas opções cozido ou assado; fresco, resfriado ou congelado. Tenta novas patentes rurais. Tenta ser um produtor de frutas secas, polpas de frutas e laticínios E em um supermercado ainda é possível encontrar produtos industrializados com certificados de inspeção, em embalagens lacradas e esterilizadas.

Saiu da cidade do interior, mas continua por lá. Não sofreu por histerese, uma patologia social, apenas por hipertensão, a patologia do ancião. Vê na atual granja, quem sabe fazer e aprender o que poderia ter feito e aprendido por lá. Lá naquela cidade de onde partiu. Hoje as terras e imóveis que sua família possuía, já não possuem mais. O jeito agora é trabalhar de meeiro dividindo tudo coleta ou que produz, com os donos da granja, para não correr o risco de ser despejado.

Não perdeu o habito dos meninos de sua época lá naquela antiga e pequena cidade. O hábito de sair para caçar. Vez por outra nos dias de hoje quando sai pela selva de pedra, volta para casa com uma carne lembrando uma caça. Uma ave preparada, um frango assado.

Hoje esta sempre criando um porco para abater e comer ao final de cada ano. Cria o porco com restos de comida, cascas de legumes e frutas, mais as sobras de um rancho militar. Para no final do ano consumir o porco alimentado de sobras. E entrar um ano novo com sobras ingeridas e transformadas, por um porco que viveu a vida toda enjaulado. 

Natal é renascimento, um local onde tudo recomeça e todos renascem. Um limite entre a barreira do inferno e o trampolim da vitória.


15/01/2015 

AVISO/NOTICE/AVISO
* Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com casos ou pessoas terá sido mera coincidência
 * This is a fictional story. Any resemblance to actual cases or persons is entirely coincidental
 * Esta es una historia de ficción. Cualquier parecido con casos reales o personas es mera coincidência.

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