terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Cantiga de grilo



Cantiga de grilo


Há que diga que o som emitido por grilos são sons repetitivos e incomodativos, o denominado cricrilar. Grilos frequentam e habitam matos, matas e matagais, quem esta na roça tem que ser roceiro para saber escutar. O som emitido pelos grilos é conhecido pela onomatopeia cri-cri, um termo entendido e estendido coloquialmente às pessoas que gostam de incomodar. Pessoas insuportáveis e maçantes (Dic.). Pessoas que passam o dia a cricrilar. E há pessoas que parecem se comportar como os grilos, onde o importante é incomodar e criticar. Não importando o quanto, o quando, ou o onde, quiçá o porquê do fato. Há inúmeras formas de incomodar.

Uma forma de incomodar é cantar, não importa o que, canções antigas que só ela conhece, ou um refrão de jingles em propagandas de radio ou televisão, “uma grande imaginação”. Cantar o que um cantor canta em rádio ou outro aparelho sonoro, impedindo outros de a canção legitima escutar. Cantar, reclamar do tempo que ocorre lá fora, do calor ou do frio que faz; da chuva que cai ou da chuva que falta. Reclamar do sono que sente ao acordar. Da chuva que promete vir e não chega. 

O importante é reclamar, sem saber a razão ou o porquê, ou para quem reclamar. Reclamar até do comportamento do personagem da novela. Reclamar da fulana ou da vizinha, que fez isto ao invés daquilo, embora a atitude da fulana ou da vizinha não influencie o seu dia a dia. Muitos incomodam ao estacionar. Colocam seus carros onde outros desejam passar.

Outra forma de incomodar é fumar. Fumar em locais fechados obrigando aos que convivem no mesmo espaço respirar o mesmo ar. A princípio o ato de fumar sob o ponto de vista de um fumante, é um ato individual de absorver e respirar a própria fumaça produzida pelo seu fumo em processo de queima. A ciência pesquisou, tabulou e identificou que as pessoas participantes do mesmo ambiente do fumante tornam-se fumantes passivos. Enquanto a ciência não tinha argumentos para criticar o ato de fumar, os participantes do mesmo ambiente criaram admissões e estratégias. Admitiram a presença do fumante, ou criaram desculpas e estratégias de sair do ambiente, ou mesmo não se incomodar com a fumaça. E até mesmo não sentir o cheiro. Não sentir o cheiro funcionou como um ato assumido inconscientemente, dividindo uma culpa e uma responsabilidade, por vezes uma submissão.

Na impossibilidade de não poder fumar, alternativas um ex-fumante pode encontrar. Como o nobre gesto de limpar e desinfetar um quintal. O nobre gesto de empestear o quintal e a casa com o cheiro de desinfetantes fortes, as populares creolinas. Vai poder justificar seu gesto e seu ato, com argumento de limpeza e desinfecção dos excrementos produzidos e depositados pelos cachorros que estão na casa. Enquanto os outros participantes da casa dividem o cheiro insuportável, ele pode dormir ou cochilar, justificado pelo seu esforço exaustivo de promover uma limpeza no quintal. 

Um cheiro não é simplesmente incomodativo ao olfato. Um cheiro forte e incomodativo implica em exaustivas trocas de ar, do pulmão com o ar no meio exterior. Consequentemente um esforço do coração no bombeamento do sangue que passa pelos pulmões e percorre todo o corpo. Coisas difíceis de entender e difíceis de explicar a um sargento. Aumento da frequência respiratória (FR) implica em aumento da frequência cardíaca (FC), podendo aumentar a pressão artéria (PA).

Um sargento não foi formado ou preparado para pensar, mas está preparado e habituado em receber ordens; seguir receitas, rótulos de produtos e bulas de remédios. Ainda haverá inúmeras formas de incomodar, outros modos de ser um cri-cri, com inúmeras formas de cricrilar. É só esperar. 



Cri-cri, cri-cri, cri-cri...


17/02/15. Entre Natal/RN e Parnamirim/RN.

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