terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Aniversario da Tia Chester



Aniversario da Tia Chester



O aniversario da Tia Chester estava por chegar, assim que o ano terminar. O destino escolheu o melhor dia para o nascimento de Tia Chester. Um dia alegre e contagiante. Um dia igualzinho a ela. Um dia alegre, de satisfação e confraternização. Com direito a festa na praia. Muito champanhe, muita farofa, muita bebida e muita comida para saudar Tia Chester e um novo ano que se anuncia. Neste dia Tia Chester trocava o arroz de carreteiro, por uma festa no terreiro, com autorização do Embrião, que já tinha perdido os butiás do bolso.

As panelas e os caldeirões arrebanhados ofereciam sopas e escaldados para a trupe da rua. Bruxas se alternavam diante do caldeirão sobre um banco também arrebanhado. Tudo naquela casa parecia não cadastrado, de um vizinho ou de outro, havia um apanhado, desde as tenras épocas, já haviam colheres e canecas tomadas de crianças.

O aniversario da Tia Chester não podia ser em outro dia, o dia perfeito para ser seu aniversario. A família e a parentada distante reunida, em um dia de festas, em praticamente todas as casas. Um dia para ser comemorado na praia, com muitas velas e muita farofa. Um dia que a principio é o ultimo, mas se torna o primeiro. Festa na praia e festa em casa, com direito a muita musica e muita palhaçada. Fantasias para todos os estilos. Até o Tio Carrofortinho se encantava com seus trajes de rainha. Aluizo já era mais chegado a um estilo meio glam, meio regaee e meio funk para quem mora embaixo da ponte.

Festa com direito a MC com pinta de DJ. MC Ardeu, colocava pimenta e refresco nas festas e nas casas dos outros. Não importava a casa, ele se sentia em casa. Chegava e aproveitava. Trocava o canal da televisão, pegava água na geladeira e utilizada o banheiro de porta aberta. Casado com a Tia Caloteirinha, os dois formavam um casal de furão, bem no estilo entrão. Entravam na casa da Tia Professorinha sem cerimônia, como se a casa fosse deles. Já estabeleciam itens beleza, higiene e perfumaria como de suas propriedades, uma praxe familiar.

Mas a historia aqui é o aniversario da Tia Chester. Quando tinha karaokê a veia Merença não queria largar o microfone, queria só ficar a cantar suas sofrências. Aluizo ficava na função de bem-te-vi, uma hora aqui e outra hora ali, vigiando a rua e o portão para correr e contar fofocas que via. 

Certa vez um vizinho, preocupado com a saúde de Aluizo, lhe deu de presente uma câmera. Câmera que evitava o corre-corre para lá e para cá, bastava sentar no sofá, ligar a televisão e sintonizar, para saber quem na rua ia passar. Depois de um tempo em vigília, muitas noticias e fofocas já tinha para comentar, sem se estressar, e sem seu rosto mostrar. O sonho de consumo de Aluizo, a tecnologia aliada com a fofoca.

* Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com casos ou pessoas terá sido mera coincidência
* This is a fictional story. Any resemblance to actual cases or persons is entirely coincidental
* Esta es una historia de ficción. Cualquier parecido con casos reales o personas es mera coincidencia

Catita Fofoqueira

Este blog consta de pequenas história de ficção
 
* Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com casos ou pessoas terá sido mera coincidência
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* Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com casos ou pessoas terá sido mera coincidência
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* Esta es una historia de ficción. Cualquier parecido con casos reales o personas es mera coincidencia
 
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O que a mão não pega, a casa da conta



O que a mão não pega, a casa da conta.




Um ditado popular, e a princípio de uso doméstico. “O que a mão não pega, a casa da conta”. Ainda que não se saiba o que aconteceu com algo, ou onde está localizada determinada coisa; onde foi guardada ou esquecida, pensou-se em guardar e não se guardou; pensou-se em contabilizar e não se contabilizou. Um dia ela aparecerá, “a coisa” ou “o objeto”, esquecido ou desaparecido vai aparecer. Um dia a casa vai dar contas do desaparecimento, vai mostrar onde “a coisa” ou “o objeto”, “o trem”, “o treco” está, esteve, ou estava. Onde ficou esquecido, longe dos olhos e das vistas do dia a dia. O referido “objeto” ou “coisa” só não aparecerá, se algum inescrupuloso fizer o favor de se aproveitar, e surrupiar, esconder e se calar. Aproveitar-se do esquecimento ou da desorganização alheia.
Até alimentos esquecidos ou largados por desleixo, em cantos escondidos pela casa, um dia aparecem. Um pacote de biscoitos ou salgadinhos, aberto e não terminado, podem estar no final das trilhas de formigas. As hortaliças esquecidas lá no fundo da geladeira, um dia serão denunciadas pela sua cor amarelada. A fruta esquecida na fruteira, um dia será lembrada primeiro pelo cheiro de fruta muito madura, e depois pelo odor de podridão. O lixo esquecido de ser despachado será denunciado, pelo odor da sua putrefação. 
Uma arrumação no fundo da casa ou no fundo do quintal, uma arrumação dos fundos de um armário ou no fundo de uma gaveta traz de volta coisas esquecidas ou desaparecidas. Uma arrumação nas estantes traz de volta ideias e livros esquecidos, areja os livros e oxigena as ideias. 
Os finais dos anos são marcados em muitas casas, como uma época de arrumação, consertos e reparos, pinturas e reformas, para que tudo possa estar em seu lugar quando um novo ano recomeçar.  Começa com uma ação de armar uma árvore de Natal, ou um presépio. Um armar sugerindo um planejar, item por item. A cada ano pode ser acrescentado um novo detalhe na árvore de natal ou no presépio. A palavra Natal vem de natalício, nascimento e renovação. Ano Novo e Vida Nova, reinício e começo de uma nova era. 
Ainda que formigas ou baratas ataquem restos de biscoitos ou outras guloseimas, restarão as embalagens. Só os ratos encontram restos de comida e carregam para seus esconderijos. E ratos que tem adoração por outros tipos de coisas e objetos, não alimentícios ou não perecíveis, também poderão subtraí-los com objetivo de levar para suas tocas ou casas. 
O que a mão não pega, a casa da conta. Um ditado bem antigo, que parece andar muito pouco lembrado nas esferas governamentais. Atitudes e comportamentos que afetam a ética, colocando em duvida o caráter, quando partimos da premissa que o aprendizado e os bons costumes partem de um exemplo, dado por aqueles que detêm um comando e um poder. 
Tornou-se um modismo dizer que não se sabe de nada, do que acontece, e principalmente do que aconteceu dentro dos limites de uma casa. Seja ela de uso privativo e particular ou de uso público e governamental. Um modismo aplicado nas esferas do governo que pode contaminar esferas sociais a níveis domésticos.
O olhar do dono é que engorda o gado, ainda que a grama do vizinho possa parecer mais verde. 
Em uma Era das informações e inovações, diversas estratégias já foram criadas para permitir um controle do que acontece em um espaço delimitado, independente de seu tamanho. A começar pela invenção das chaves, que hoje são senhas. A posse de uma chave de uma casa deveria ser como uma senha, pessoal e intransferível. Deixar senhas e chaves ao alcance dos outros é o mesmo que deixar uma porta aberta convidando a que passe, usar e desfrutar, entrar e sair sem somar e só subtrair. Balanços e balancetes, checklist e conferencias apontam entradas e saídas, aparecimentos e desaparecimentos.
E como dizia a minha avó: O que a mão não pega, a casa da conta. E agora outras casas podem dar conta daquilo que não lhes pertencem, basta um pequeno descuido na colocação de fotos em redes sociais.... A animação das festas deixa transparecer atos furtivos, que acabam por confirmar suspeitas.


* Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com casos ou pessoas terá sido mera coincidência
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RN 24/12/14

domingo, 21 de dezembro de 2014

O Fim de uma história


O Fim de uma história

Estavam todos ali reunidos para a despedida final. Todos reunidos em volta do caixão ainda aberto, para as ultimas orações e ultimas despedidas. O representante do sacerdócio religioso fez sua fala fúnebre, cerimonial e religiosa, e convocou o grupo para que rezassem. 

Terminada a reza um familiar próximo fez um sinal para que fechassem o caixão e seguisse os procedimentos finais do funeral, baixar o caixão até o fundo da cova. Neste momento reinava um silencio sepulcral. Quebrado apenas pelos gritos de um gavião que rodopiava nas alturas, em meio ao sol quente.

No meio do silencio das vozes pálidas, surge outro grupo caminhando em silencio. Seguem caminhando lentamente pelos atalhos do campo santo, como se não quisessem atrapalhar o descanso dos que ali repousavam. Aproximaram-se do funeral formando um semicírculo para que todos se colocassem em condições iguais, na chegada de um lugar que entendiam como um destino final. Aproximaram-se e pararam a uma distancia que podia ser chamada de posição de respeito, aos que participavam do funeral. De um modo gestual ordenaram a paralisação do cerimonial. O ranger das roldanas foram silenciando lentamente. Cada gesto dos presentes era calculado e milimetrado. Quando o movimento de descida parou junto com o ranger das roldanas, uma nova ordem gesticular. Retirem o caixão de volta. O gavião parara de gritar.

Novos olhares de espantos que tentavam sussurrar, mas não se atreviam diante de tal situação. Novamente o silencio é quebrado pelas roldanas, que agora giravam em sentido contrário, retornando o caixão de uma viagem já realizada. O movimento ao contrario era mais penoso pela subida, um sacrifício ainda maior por não entender como um corpo franzino podia pesar tanto. Por fim o caixão chegou ao nível do solo, e ali ao lado foi depositado.

 O silencio das vozes que era sepulcral, torna-se um silencio tumular, com uma expressão oculta em cada olhar. Ninguém se mexia, estavam todos estatizados com a situação. Um misto de medo e suspense, do que poderia acontecer pelos próximos minutos. Seria uma ação de meliantes dentro de um cemitério? Qual seria a real intenção daquele grupo? No meio de tantas covas rasas, não havia locais para correr ou se esconder. Melhor seria aguardar os acontecimentos e rezar, silenciosamente, nada de desesperos. Cada um deveria fazer suas orações em silencio, para não criar melindres com o grupo recém-chegado. E assim aconteceu.

Passado alguns instantes, já havia tempo suficiente para que cada presente pudesse ter visto os rostos daqueles componentes do grupo que ali se apresentava. Com gestos discretos cada um pode girar seu globo ocular para todas as direções sem outro músculo aparente movimentar.

Aos poucos as expressões de medo foram se ausentando de cada face, restando uma expressão de suspense ou surpresa, e assumindo agora uma expressão de uma situação geral de espanto. Alguns membros do grupo eram conhecidos de muitos daqueles ali presentes. Cada membro do grupo podia conhecer ou reconhecer, ou um ou outro, membro do grupo que ali chegara ao ultimo momento cerimonial. Poderiam mesmo até estar ali, para prestar uma ultima homenagem. 

Todos já sabiam ou pressentiam que não se tratava de uma ação marginal. Eram pessoas do bem. Mas porque não haviam chegado mais cedo? Porque não chegaram ao cerimonial ao tempo de participar, como todos os outros presentes. Ainda reinava um suspense.  Um misto de calor e de frio circulava entre as pessoas. Só uma brisa assobiava nos ouvidos atentos. Grandes besouros de asas batentes circulavam entre as flores. Por fim os novos participantes se posicionaram em volta do caixão, e o abriram novamente, expondo o corpo que acabara de ser velado e quase enterrado. Retiraram o corpo e o depositaram sobre o chão de terra.

Começaram por investigar cada parte do caixão, como quem procura algo escondido em paredes e fundos falsos, não encontravam nada. Terminada uma suposta vistoria no caixão, passaram a revistar o corpo, seus bolsos e seu paletó. A situação começa a ficar cada vez mais intrigante. O que estariam procurando? Estaria o defunto ou aquele grupo participando de ações secretas que nunca foram imaginadas? Seriam um grupo tão secreto que ao longo de vidas não tivessem deixado pistas de suas ações? Cada presente naquele momento imaginava histórias nunca antes imaginadas. Por fim pararam ou desistiram de procurar aquilo que ninguém imaginava o que seria. 

Alguns do novo grupo se juntaram, e de um único gesto, recolocaram o corpo novamente no caixão. Terminaram aquela remoção e limparam suas mãos umas nas outras, como se quisessem espanar a terra acumulada nas mãos, e em um gesto de limpeza por tocar em um corpo que já tinha ido ao fundo da sepultura. Pensaram e murmuraram em uma só voz; pela primeira vez o grupo emitia uma voz. Parece que desta vez ele esta saindo sem levar nada.

 Os participantes tiraram lenços brancos de dentro dos bolsos para finalizar a operação de limpeza e desinfecção de suas mãos. Limparam as mãos nos lenços, deixando resíduos de terras nos tecidos que antes eram bem alvos. Limparam as mãos com os lenços, depois embolavam-os de qualquer maneira e atiravam dentro do caixão. Fizeram seu ultimo olhar ao morto virando de costas, para o caixão. E com uma expressão clara percebida por todos os presentes, seus pensamentos e suas ações: “leve estes lenços como sua ultima subtração”. Terminaram seus objetivos e tarefas, e voltaram para a mesma direção de onde chegaram. Revistaram tudo e não encontraram nada, assim parecia ter acontecido. Não acharam nada, não retiraram nada e não falaram mais nada.

A viúva aproximou-se do caixão, e observando tantos lenços sujos e embolados seus olhos brilharam. Brilharam tanto que pareciam que iam se debulhar em lágrimas. Ela não chorou, e avidamente recolheu todos os lenços, um por um. E os guardou onde conseguiu guardar, sem se preocupar com sujeiras ou observações. Na pressa de recolher todos os lenços, foi colocando-os onde podia ou onde cabiam: nos bolsos, presos a cintura ou juntos do sutiã. Parecia a ela não haver um corpo ali á sua frente, só lenços.

Todos entenderam sua intenção de recolher os lenços. Lavar, quarar, secar e passar, para depois guardar. E quem sabe não pudesse entregar pessoalmente, já limpos e perfumados. Ela sabia que em breve iriam se encontrar, e novas subtrações juntos poderiam realizar. 

O destino como sempre, tem uma peça ou uma lição a contar. Em uma sepultura ao lado estava escrito, uma frase para quem quisesse observar: Nenhuma herança é tão rica quanto a honestidade (Willian Shakespeare). O gavião começava novamente a gritar.

* Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com casos ou pessoas terá sido mera coincidência
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* Esta es una historia de ficción. Cualquier parecido con casos reales o personas es mera coincidencia



Natal/RN 21/12/14